Eram duas e meia da tarde. Havia chegado da escola e tirado um pequeno descanso antes de ir para meu curso de língua japonesa. Sentia um vento frio correr meu corpo enquanto olhava o teto iluminado por reflexo do sol. O tempo estava nublado com alguns raios solares. Tudo estava estranhamente calmo, não ouvia carros na avenida, mas não ligava muito para esses detalhes. Peguei o controle para ligar a TV quando percebi que ela não funcionava. Será que havia queimado? Tive uma sensação estranha, um déjà vu. Não me importei muito, já havia sentido aquilo inúmeras outras vezes. Então, fui ligar a luz para confirmar minha outra suspeita. Realmente não havia energia…

Já estava muito sem o que fazer deitado, só vendo a hora passar. Faltavam cinco minutos para as três — horário do curso — e apressei em me arrumar. Troquei a camiseta, peguei as meias na gaveta. Por algum motivo fui no quarto dos meus pais. A janela tinha uma boa vista para o restante do bairro. O horizonte estava nublado, parecia ao mesmo tempo que ia chover e que ia fazer sol. Mas a paisagem estava legal, um tanto sombria, mas eu gostava disso. Lembrei-me que estava atrasado. Corri logo para pegar a mochila e calçar o tênis. Saquei a chave do portão que ficava num murinho e abri-o. Logo que tranquei, já do lado de fora, um negro vento soprou em minha rua, percorrendo minha espinha com um gelo. Era junho, estava no inverno, parecia normal. Andei até o fim dela, desci a rua perpendicular e cheguei à avenida. Aquilo realmente foi assustador. Ambos os lados estavam completamente vazios de vida. Não havia uma só pessoa, nem cachorro, nem pássaros. A avenida estava com pouquíssimos carros estacionados e nenhum no meio do asfalto. Pensei estar sonhando — me belisquei algumas vezes. Neste momento, meu coração palpitou e fiquei com um frio na barriga. Minha racionalidade dizia que era apenas uma coincidência, que naquele momento único ninguém passava por ali. Mero engano.

Cheguei em frente à escola. Um galpão grande, não muito chamativo. A porta de madeira estava entreaberta, um tanto incomum. O carro da minha professora ao menos estava ali em frente, como de costume. Mas logo pensei, a energia acabou, então seria mais fácil dos alunos entrarem, uma vez que o interfone também não funcionaria. Se a energia acabou, então… como iria ter aula?

Pensei um pouquinho, mas entrei. A sala estava vazia. Ninguém, nada. Olhei na quadra que havia no galpão. Quando percebi isso, e me dirigia à porta, um susto. A porta fechou. Não há energia, não dá para abrir pelo interfone. Entrei na sala escura procurando pelas chaves. Geralmente ficava na porta da sala, ou num cantinho no fundo. Peguei meu celular para me ajudar, iluminando onde ia procurar. Estava cheio de pastas, papéis e outras coisas. Nada. Fui procurar na mesa da professora. Olhei tudo, mas a escuridão da sala atrapalhava. Já ia saindo quando esbarrei em umas coisas que estavam na mesa e caíram no chão. Fui pegar para juntar tudo e deixar como estava quando vi um cartão que usávamos em aula, virado para cima, e nele estava escrito em japonês “死” — shi, morte. Logo que o peguei para guardar, exatamente embaixo havia outro escrito “血” — chi, sangue. Não acredito em destino, mas aquela foi uma coincidência que me deixou um pouco desesperado.

Apesar disso, arrumei a mesa mais ou menos. Saí da sala escura e comecei a procurar um meio de sair dali. A porta era forte, não abriria na porrada. Olhei por uma janela acima dela, e não havia ninguém passando. Comecei a ficar com medo, desesperado. Minha razão pedia calma — deve haver uma explicação. Olhei o celular. Marcava 15:10. Iria ficar procurando uma saída por mais algum tempo ou chamaria a emergência. Assim, pensei em ir ao banheiro, talvez encontrasse algo lá. Quando liguei a luz do banheiro, tomei um susto. O espelho estava coberto por um líquido vermelho, parecendo vermelho sangue. Um canto estava quebrado, com gotas vermelhas espirradas nas laterais. Cheguei mais perto para investigar — muitas vezes dizem que a curiosidade matou o gato — e me aproximei do espelho. Sentia cheiro. Cheiro de ferro. Estava me recusando a acreditar. Paralisei. Não sabia o que pensar ou o que fazer. Pelo próprio espelho conseguir enxergar uma das cabines do banheiro. Estava com a porta coberta por sangue. A uma certa distância, dei um empurrão com o pé. Aquilo realmente era impossível, um sonho, um pesadelo. Tinha um corpo ali dentro, irreconhecível, esquartejado. Saí correndo dali, peguei o celular e fui ligar para a emergência.

— Merda!

Exclamei bem alto. Estava sem sinal, não pegava. Estava desesperado, como iria sair dali. Comecei a ficar nervoso, trêmulo.

— Isso é irreal, isso é irreal!

Estava na quadra, procurando algum meio de sair dali. Me virei um pouco e vi o portão grande. Nunca vi ele aberto, era um portão para veículos. Ele tinha umas travas em cima e em baixo, e não achei nenhum cadeado. Apenas travas. Peguei minha mochila, destravei elas e abri o portão. Estava como eu cheguei a rua: vazia, o céu estava um cinza de tempestade, um vento frio soprava lateralmente. Olhava para todos os lados, procurando um ser, alguma pessoa, nem que seja um cachorro. Comecei a correr em direção a minha casa. Cheguei em frente a ela, entrei. Subi as escadas procurando por alguém. Ninguém! Desci de volta, fiquei na rua. O céu estava ficando um avermelhado assustador, o sol detrás das nuvens ficava mais vermelho. Precisava procurar pessoas. Fui então à procura de um carro com a chave no engate. Encontrei um na avenida. Era um Corsa, mas não ligava pro modelo. Eu ainda era iniciante nisso, tive dificuldade de sair com ele e manter a velocidade estável. Mas assim eu ia dirigindo pelas desertas avenidas e ruas do bairro. Estava ficando cada vez mais desesperado quando, de repente, alguém me agarrou pelo rosto. Não sabia quem era, não conseguia enxergar o retrovisor. Estava perdendo a direção, o controle do carro. E ele acelerava cada vez mais, tentei pisar no freio. Mas o pedal não funcionava! Fui tentar mudar a marcha, sem nenhum efeito. Puxei até o freio de mão, sem sucesso. E o ser me segurava forte. Quando vi que ele ia apertar meus olhos, consegui dar uma forte mordida no braço. Um forte gosto de sangue invadiu minha boca e finalmente olhei no retrovisor. Dei um pulo de susto pelo que eu via, mas já não tinha como reagir mais. O carro estava à beira de um barranco, tudo que pude ver era o sol à frente, a cor avermelhada dele, junto com nuvens que expeliam raios e trovões. A queda foi uma sensação indescritível de gravidade zero. Logo que a frente tocou o solo, meu corpo foi projetado para frente, em direção ao para-brisa. Acabou. Tudo acabou.

Eram duas e meia da tarde. Havia chegado da escola e tirado um pequeno descanso antes de ir para meu curso de língua japonesa. Sentia um vento frio correr meu corpo enquanto olhava o teto iluminado por reflexo do sol. O tempo estava nublado com alguns raios solares. Tudo estava estranhamente calmo, não ouvia carros na avenida, mas não ligava muito para esses detalhes. Peguei o controle para ligar a TV quando percebi que ela não funcionava. Será que havia queimado? Tive uma sensação estranha, um déjà vu. Não me importei muito, já havia sentido aquilo inúmeras outras vezes. Então, fui ligar a luz para confirmar minha outra suspeita. Realmente não havia energia…